A cerca de 30 metros de profundidade, existe, nos mares do Corvo, um verdadeiro santuário de
meros, guardado pelas gentes da ilha. Pescadores locais adiantam-se e constituem a primeira reserva voluntária do país, provando que se preocupam com uma espécie emblemática e em perigo.
Mesmo para quem nunca mergulhou, é fácil imaginar a calma do mar profundo. O azul claro e tranquilo mistura-se com algas e grutas, e peixes coloridos, grandes e pequenos, vão rodopiando numa dança rápida. No Corvo, garoupas, encharéus e sargos passeiam-se junto à areia funda, mas ali o mero é quem manda.
A 30 metros de profundidade, naquela ilha, há um verdadeiro santuário de meros. Num chão de escoadas lávicas e clareiras de areia, que só deve ser visitado por mergulhadores com alguma experiência, o peixe simpático, mas de feições zangadas, deixa-se tocar pelos curiosos que ali se deslocam. Alguns deles são francamente grandes. Os meros existentes na Região chegam aos 60 kg e aos 150 cm, podendo viver até aos 60 anos, mas algumas espécies podem alcançar os 300 kg de peso e os dois metros de comprimento.
No passado os meros destes mares foram alimentados e, por isso, dizem os mergulhadores, apresentam por vezes um comportamento exigente, mordendo os seus reguladores. Nada de muito grave.
É o Caneiro dos Meros, o santuário descoberto em 1998. Marco Silva, um dos sócios da empresa de mergulho Nauticorvo, recorda que nessa altura, após terem descoberto espécies de grande porte, decidiu-se “tentar convencer os pescadores da ilha a abdicarem das actividades extractivas naquele local, de modo a criar uma zona especial para o mergulho”.
Assim, pouco tempo depois, criava-se a primeira reserva voluntária do país. “Sem que tenha sido imposto por qualquer lei, os habitantes da ilha deixaram de exercer a actividade de pesca naquele local”, frisa.
A sensibilização foi feita nos cafés do Corvo. Os mergulhadores realizaram um vídeo com imagens do local, das suas maravilhas subaquáticas e, claro, dos meros de grande porte que lá existiam. Não foi preciso muito para que os habitantes compreendessem o potencial turístico que aquele pedaço de fundo do mar encerra.
Os pescadores corvinos, fiscalizadores do santuário, são os verdadeiros heróis nesta história. É a sua boa vontade, e nada mais para além da boa vontade e do bom senso, como diz Marco Silva, que impede qualquer actividade extractiva no Caneiro dos Meros. Por outro lado, há ainda que ter em conta que o lugar fica próximo de terra e, por isso, é facilmente controlável. “Na verdade, seria impossível a permanência de uma embarcação naquela zona sem que fosse detectada”, afirma o mergulhador.
O Caneiro dos Meros é um motivo de orgulho para os habitantes da ilha do Corvo. É um dos seus símbolos e, segundo Marco Silva, talvez isso tenha entusiasmado os pescadores a abdicarem da actividade extractiva no local. Ainda assim, as ameaças existem e vêm de fora, sobretudo da ilha das Flores. “Actualmente, a única ameaça vem da ilha das Flores e dos seus barcos de pesca, principalmente de recreio”, explica. A espécie tem um alto valor comercial e, nos Açores, as capturas realizadas estinam-se sobretudo à exportação.
Ainda assim, a Nauticorvo defende que a reserva voluntária é mais lucrativa do que a captura. “O Caneiro dos Meros é um local emblemático que recebe anualmente um grande número de mergulhadores, não só de Portugal, como também de outros locais do mundo”, adianta Marco Silva que diz ainda que o local é uma referência “regional, nacional e mesmo internacional”.
O mergulhador defende que as reservas, desde que efectivas e bem geridas, podem permitir o aumento da biodiversidade na zona. É o que tem acontecido, de facto, naquele lugar dos mares do Corvo, que tem sofrido, ao longo dos últimos anos, uma importante valorização da sua biodiversidade.
A questão é tanto mais importante se considerarmos que o aumento dos stocks de algumas espécies de peixes, como já se verifica no local, explicou Marco Silva, permitirá o aumento das capturas nas zonas limítrofes à reserva. Assim, salienta, “o que a curto prazo poderá parecer uma diminuição das receitas dos pescadores, significa, a médio prazo, o aumento efectivo dos seus rendimentos”.
“Deste modo, a mais pequena ilha do arquipélago açoriano deu um notável exemplo de auto-organização e respeito de umas actividades pelas outras e que deverá servir de exemplo, não só a outras parcelas do território nacional, mas também em termos internacionais”, acredita Marco Silva.
meros, guardado pelas gentes da ilha. Pescadores locais adiantam-se e constituem a primeira reserva voluntária do país, provando que se preocupam com uma espécie emblemática e em perigo.
Mesmo para quem nunca mergulhou, é fácil imaginar a calma do mar profundo. O azul claro e tranquilo mistura-se com algas e grutas, e peixes coloridos, grandes e pequenos, vão rodopiando numa dança rápida. No Corvo, garoupas, encharéus e sargos passeiam-se junto à areia funda, mas ali o mero é quem manda.
A 30 metros de profundidade, naquela ilha, há um verdadeiro santuário de meros. Num chão de escoadas lávicas e clareiras de areia, que só deve ser visitado por mergulhadores com alguma experiência, o peixe simpático, mas de feições zangadas, deixa-se tocar pelos curiosos que ali se deslocam. Alguns deles são francamente grandes. Os meros existentes na Região chegam aos 60 kg e aos 150 cm, podendo viver até aos 60 anos, mas algumas espécies podem alcançar os 300 kg de peso e os dois metros de comprimento.
No passado os meros destes mares foram alimentados e, por isso, dizem os mergulhadores, apresentam por vezes um comportamento exigente, mordendo os seus reguladores. Nada de muito grave.
É o Caneiro dos Meros, o santuário descoberto em 1998. Marco Silva, um dos sócios da empresa de mergulho Nauticorvo, recorda que nessa altura, após terem descoberto espécies de grande porte, decidiu-se “tentar convencer os pescadores da ilha a abdicarem das actividades extractivas naquele local, de modo a criar uma zona especial para o mergulho”.
Assim, pouco tempo depois, criava-se a primeira reserva voluntária do país. “Sem que tenha sido imposto por qualquer lei, os habitantes da ilha deixaram de exercer a actividade de pesca naquele local”, frisa.
A sensibilização foi feita nos cafés do Corvo. Os mergulhadores realizaram um vídeo com imagens do local, das suas maravilhas subaquáticas e, claro, dos meros de grande porte que lá existiam. Não foi preciso muito para que os habitantes compreendessem o potencial turístico que aquele pedaço de fundo do mar encerra.
Os pescadores corvinos, fiscalizadores do santuário, são os verdadeiros heróis nesta história. É a sua boa vontade, e nada mais para além da boa vontade e do bom senso, como diz Marco Silva, que impede qualquer actividade extractiva no Caneiro dos Meros. Por outro lado, há ainda que ter em conta que o lugar fica próximo de terra e, por isso, é facilmente controlável. “Na verdade, seria impossível a permanência de uma embarcação naquela zona sem que fosse detectada”, afirma o mergulhador.
O Caneiro dos Meros é um motivo de orgulho para os habitantes da ilha do Corvo. É um dos seus símbolos e, segundo Marco Silva, talvez isso tenha entusiasmado os pescadores a abdicarem da actividade extractiva no local. Ainda assim, as ameaças existem e vêm de fora, sobretudo da ilha das Flores. “Actualmente, a única ameaça vem da ilha das Flores e dos seus barcos de pesca, principalmente de recreio”, explica. A espécie tem um alto valor comercial e, nos Açores, as capturas realizadas estinam-se sobretudo à exportação.
Ainda assim, a Nauticorvo defende que a reserva voluntária é mais lucrativa do que a captura. “O Caneiro dos Meros é um local emblemático que recebe anualmente um grande número de mergulhadores, não só de Portugal, como também de outros locais do mundo”, adianta Marco Silva que diz ainda que o local é uma referência “regional, nacional e mesmo internacional”.
O mergulhador defende que as reservas, desde que efectivas e bem geridas, podem permitir o aumento da biodiversidade na zona. É o que tem acontecido, de facto, naquele lugar dos mares do Corvo, que tem sofrido, ao longo dos últimos anos, uma importante valorização da sua biodiversidade.
A questão é tanto mais importante se considerarmos que o aumento dos stocks de algumas espécies de peixes, como já se verifica no local, explicou Marco Silva, permitirá o aumento das capturas nas zonas limítrofes à reserva. Assim, salienta, “o que a curto prazo poderá parecer uma diminuição das receitas dos pescadores, significa, a médio prazo, o aumento efectivo dos seus rendimentos”.
“Deste modo, a mais pequena ilha do arquipélago açoriano deu um notável exemplo de auto-organização e respeito de umas actividades pelas outras e que deverá servir de exemplo, não só a outras parcelas do território nacional, mas também em termos internacionais”, acredita Marco Silva.
Atlântico Expresso
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